Qualquer democrata subscreve a afirmação clássica de Abraham Lincoln no discurso de Gettysburg, em l863, que a democracia é "governo do povo, pelo povo e para o povo”. Mas o que raramente se acrescenta é que a frase foi extraída da tradução da Bíblia por John Wycliff, a que Lincoln usava. “This Bible is for the government of the people, by the people and for the people” ... Afinal o presidente bebia em duas fontes; a cultura judeo-cristã da Bíblia e a tradição jurídica anglo-americana.
Dito isto, a pergunta à blogosfera que me ocorre é esta: por que razão que se entenda os dirigentes atuais dos nossos partidos se deixam dominar tão facilmente pelo pensamento único dos mercados financeiros? Só vejo uma resposta, semelhante à que dava Henrique Barrilaro Ruas; são pagãos que, ao contrário de Lincoln, já se esqueceram da Bíblia na sua vida pública.
Longe de mim querer ressuscitar partidos eclesiásticos ou a presença de uma qualquer Igreja na vida política. É má politica, má teologia e dá sempre mau resultado. Mas a democracia portuguesa tem uma exigência a fazer aos seus representantes máximos. É que não basta acreditar na democracia como sistema deixando de fora a visão.
Toda a gente sabe que há sistema democrático quando se respeitam princípios constitucionais e procedimentos sobre direitos políticos e sociais. Mas por visão democrática refiro-me à esperança de uma sociedade em que todos sejam iguais em direitos e onde a diferença é respeitada; uma sociedade em que todos sejam livres mas onde prevalece a responsabilidade social mais do que o interesse individual; uma sociedade justa, em que o abismo entre ricos e pobres é considerado prejudicial ao bem comum, que é de todos e de cada um. Essa visão, messiânica, se quiserem é que não vejo nos dirigentes dos nossos partidos.
Eu gostava é que alguém como o Daniel Oliveira do Arrastão respondesse a esta minha pergunta. Ou algum discreto do Albergue Espanhol. Ou alguém governamentalista do 31 de Armada. Mas não sei se lêem O Ouriço.
. Dia 15, no cinema King......